
09
out
Na mais incrível experiência de minha vida de 38 anos sendo pai de uma meninoca de um ano e dez meses, tenho percebido e me atentado para um grande número de detalhes que nem em minhas mais férteis ideias estariam presentes.
Observar o universo daquela coisinha e de como ela interage com o mundo tem sido um resgate maravilhoso à minha infância. Por vezes me questiono se aquilo que está sendo vivenciado por minha filha também não vivi. É incrível.
Neste mesmo picadeiro lúdico e concreto, está a mãe dela, pessoa maravilhosa com a qual tenho a oportunidade de dividir toda essa inebriante aventura. E claro, por carregarmos educações de fontes diversas, divergimos em alguns pontos relacionados à educação que queremos dar para nossa pequena, quando e como corrigir e que medida tomar para impor limites àquela mente curiosa.
E trocando de lugar com minha esposa, em um exercício de empatia analítica, buscando respostas a algumas de suas indagações e pedidos, tive essa semana um insight que pode nos ajudar muito. Refiro-me aos pais em especial, mas ao casal também, já que a relação tenderá muito ao atingimento do comportamento idealizado pelas mães. Sim, há um grande hiato entre o que nós pais entendemos ser uma atuação maravilhosa, impecável, acima das expectativas, e como as mães nos percebem.
Nós, meninos de ontem, nascidos em 70, 80 e 90 não fomos acostumados a brincar de boneca, até mesmo porque isso fazia parte da repressão comportamental necessária para que fôssemos “machos”! Foi nos tirado a doçura e a habilidade para entendermo-nos como possíveis mães de serezinhos tão dependentes e delicados, sepultando em rasa cova a compreensão do que é ter um bebê em nossas mãos e o que fazer com ele, como brincar, cobrir, dar comidinhas fantasiosas, arrumar a casinha onde o quarto e a cozinha estão adstritos a um espaço em que as pernas não comportam estar, conversar com os bichinhos… enfim, brincar de boneca.
E aqui faço um apelo às nossas amadas esposas: entendam que não nos foi dada a possibilidade de sermos mães de bonecas. Mas agora queremos ser, com o coração mais doce e fraterno do mundo. Só temos um pouco de dificuldade de entender como é esse processo, mesmo sendo tão dedicados. Além de sermos pais, precisamos da ajuda de vocês, ensinando-nos o que vocês esperaram por uma vida.
Queremos mais que tudo brincar de boneca e, se Deus permitir que eu tenha um filho menino, vou mostrar a ele que masculinidade e opção sexual nada tem de afinidade, preparando-o corretamente para o melhor que a vida pode lhe oferecer. Aos meus pais e avós queria poder dizer que entendo que tentaram fazer o melhor, protegendo-me do desconhecido, sem saber que a sociedade mudaria ao ponto de ver milhares de pais querendo ser emocional e comportalmente preparados como mães!
Autor: Leonardo Moreira Pereira – Pai da Maria Luísa (1 ano e 10 meses).
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